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Balançou o corpo para frente e depois para trás. Ela não queria demonstrar, não podia mostrar nada a ele. Passou as unhas nas teclas ao ouvir o que ele dizia, tentando não se importar. Saphira estava pagando por ter escolhido aquele caminho, vivendo escondida, com sede de vingança. Uma vingança que carrega desde sua juventude, a fúria que soltou sobre tudo e todos, mas que ainda não terminou. Ergueu a cabeça ao ouvir passos, cerrou os olhos e ouviu uma explosão. A barreira de metal foi destruída, tendo alguns pedaços jogados para os lados, mas sem ferir os que estavam no local. Ela continuou sentada, tentando reconhecer o cheiro do intruso. Ao ouvir a voz do invasor, levantou a cabeça e respirou fundo. O homem que sumiu há vinte anos, mas que nunca foi procurado por Saphira, estava de volta. Ela preferia criar o filho sem a ajuda de um homem, e Fenrir desapareceu antes que ela pudesse contar.
Sentiu os lábios do homem tocarem os seus e deu uma dentada, tentando ferir os lábios dele. Levantou-se devagar, o ouvindo falar com Orion. O sangue da mulher começou a esquentar, fervendo em suas veias. Abriu suas grandes asas e as bateu de forma violenta, gerando uma intensa ventania dentro da sala. Quadros, potes, vidros, vasos... Os objetos comeram a cair no chão, alguns foram jogados para longe e outros jogado contra o homem. Saphira empurrou o corpo do homem contra a parede, levou uma das mãos até o pescoço do homem, apertando. Arregalou os olhos, abriu a boca e mostrou os dentes que se tornaram afiados.
— Não tens o direito de voltar... Não tocará no meu filho... — cravou as unhas no pescoço do mesmo, apertando ainda mais, o olhando fixamente nos olhos. Puxou os cabelos dele para o lado, descendo a mão, cravando as unhas em seu peito até fazer cortes. O sangue começou a descer de forma lenta e sutil. Saphira o empurrou e depois soltou, virando-se de frente para Orion. Cerrou os olhos e ergueu a cabeça, sentindo seus lábios tremerem. Pendeu a cabeça para o lado e desviou o olhar para o chão. Virou-se novamente de frente para Fenrir e apontou a varinha para sua mão.
— Accio varinha! — a varinha de Fenrir é sugada e vai em direção à mão de Saphira. Arqueia a sobrancelha e aponta a varinha para o centro da sala. — Conjurius Army — conjura uma gaiola de três metros de altura, dois metros de largura, feita de metal. As grades eram bem próximas, sem deixar qualquer espaço para um corpo atravessar. Ela o puxou pelas vestes e jogou dentro da gaiola, logo trancando. Olhou fixamente para Fenrir e mostrou que a varinha estava com ela. Guardou a varinha do mesmo, passou a ponta da língua nos lábios e olhou para o elfo.
— Traga o coração... — começou a girar a cabeça devagar, como um robô antigo e defeituoso. Abriu a boca, gritando, arregalando os olhos, dando um salto para cima da mesa. As cores de seus olhos ficaram mais intensas, a expressão facial de Saphira se tornava cada vez mais agressiva. Ela olhou para Emily, depois para as fotos no chão e cravou as unhas no próprio braço.
— Ingratos! Eu os protegi, tirei seus rastros para que ficassem vivos e o que fizeram? Voltaram... Voltaram por amor? Vocês serão mortos, perseguidos, trancafiados em Azkaban! E eu não irei salvá-los... Não mais. — cerrou os olhos e desaparatou. Alguns minutos se passaram e Saphira aparatou na sala com Mandy, segurando a garota pelos cabelos, deixando a cabeça da mesma inclinada para trás.
— Eu odeio espiões... — jogou Mandy contra o sofá e viu que o elfo estava voltando para a sala com uma caixa negra em suas mãos. Pegou o recipiente, abriu e pegou um grande coração. Um coração de dragão. Levou até a boca, mordendo, puxando a carne com os dentes, sujando seu rosto de sangue. Engolia a carne crua como um animal selvagem, mordendo com ferocidade, empurrando os últimos pedaços contra a garganta. Sua boca estava completamente suja, parte do rosto manchado pelo sangue do coração.
— Eu não vou lhe abraçar, não darei colo ou demonstrações de afeto. Eu o criei pra ser um homem forte, para lutar ao meu lado. Lutar por vingança! Lutar contra aqueles que tentaram me matar, os que destruíram a minha família. Aqueles imundos, medíocres, ignóbeis... Duas vezes... Duas. — virou-se de costas, ficou com a boca entreaberta e passou dois dedos lentamente em seus lábios, limpando o sangue e depois os enfiando na boca. Levantou a cabeça e olhou de rabo de olho para Orion.
— Ele morreu para você ser forte. Ele morreu para que eu fosse forte novamente... — tocou a palma da mão esquerda sobre o peito esquerdo de Orion e o olhou fixamente nos olhos. — Quantas vezes tentaram lhe matar? Quantas vezes o aprisionaram ou caçaram? — abaixou a mão e se afastou, dando alguns passos para o outro lado. — Eu o ensinei antes mesmo desses meros mortais saberem pronunciar um feitiço. Eu o eduquei para ser um Lorde. As marcas em seu corpo queimam, não é? Elas ardem e sua cabeça fica formigando... Você sente coisas diferentes dos outros. Ainda não percebeu que é diferente de todos nós?
Caminhou até a gaiola onde Fenrir estava preso, apontou a varinha para o homem e franziu o cenho. — Claustrophobio — o feitiço conjurado fazia o alvo se sentir como se as paredes — ou as grades — estivessem se fechando contra ele, causando um descontrole mental. Ela passou uma das mãos na testa, logo fechando a mão e dando fracos socos em sua cabeça.
— Ele arrancou o próprio coração e colocou nas águas em que você foi banhado. Seu pequeno e frágil corpo foi colocado no grande caldeirão negro, onde todos os outros elementos também foram postos para que a criança renascesse. Para que você renascesse. Ele o segurou nos braços pela primeira e única vez. Você era apenas um bebê com menos de um mês de vida, mas com um grande propósito e responsabilidade nas costas.
Saphira estava contando a história pela primeira vez. Uma história que Emily conhecia e muito bem. Mandy olhava para Orion e Saphira, intercalando os olhares. Todos naquela sala eram culpados. Todos escondiam segredos. Apenas o garoto tinha uma essência pura, um inocente, uma chave com o poder de mudar o mundo. Ela ainda não esboçava qualquer expressão de felicidade em seu rosto, ou se quer chorava. Era como se as lágrimas estivessem esgotadas. Sentou-se novamente ao piano, voltando a tocar os dedos nas teclas, fazendo um estrondoso barulho que logo se tornou uma melodia fúnebre e melancólica.